Wellington e mais além
Sentados na proa do barco, já um bocado verdes de tanta onda a bater, começamos a avistar Wellington. A cidade desenrola-se toda à beira mar, numa baia feita de luzes, cores e edifícios imponentes.
É um ponto de viragem na nossa viagem!
Entramos na cidade e damos de caras com um trânsito imenso, 4 faixas de rodagem e sinais vermelhos. As 7mil ovelhas a pastar são agora pessoas atarefadas de várias culturas, a ir e a vir como autênticas formiguinhas.
A cidade em si não tem nenhuma beleza especial, mas como à meia noite comemoramos um dia especial (4 anos de Piriquitos) começamos a nossa estadia :)
Decidimos ficar esta noite num hotel para ficarmos mais perto do centro da cidade porque queríamos jantar num sítio giro e no dia a seguir dar umas voltinhas citadinas. O hotel mais em conta que conseguimos tinha tanto de central como de peculiar. O quarto tinha mobília de madeira preta e era forrado com uma alcatifa vermelha escura com uns apontamentos dourados. Os interruptores das luzes pareciam os sinos da recepção de um hotel antigo e as tomadas eram no rodapé de tal maneira junto ao chão, que nos impedia de colocar as nossas fichas para carregar os vários devices electrónicos que temos. Piroseiras à parte, foi um momento único tomar duche sem chinelos e sem ter que fazer posições artísticas para secar e vestir.
Pusemos o nosso melhor kit, jeans e t-shirt, e fomos jantar ao Beach Babylon, um restaurante com vista sobre a baía. Mais uma vez, os donos do restaurante eram muito porreiros e deram-nos umas dicas de como devíamos seguir viagem na Ilha Norte. Depois da garrafa de vinho Sauvignon Blanc estar vazia seguimos rumo aos bares em Courtnay Place.
Ancorámos num bar decorado com vinis por todo o lado e com um DJ orientado aos 70's e 80's. Duas tequilas depois o cansaço começou a bater e fomos dormir, não sem antes parar no Burguer King mesmo à gordosssss!
Acordámos cedo e saímos do hotel em busca de uma torrada, uma tosta de queijo, um croissant misto, qualquer coisa que fosse semelhante a um pequeno almoço. Não foi fácil, mas depois de uma ou outra nega eventualmente acabámos por encontrar um sítio que nos conquistou.
A cidade é meia escura e apesar de não ser suja, tem um aspecto velho e pouco cuidado. Umas casas são feitas de madeira e parecem autênticas casas de bonecas em tons de cinzento e azul, outras parecem contentores de carga completamente rectangulares sem nenhum estilo em concreto. Depois mais junto ao mar está a zona de negócios que é feita de prédios altos, escuros e sérios e outros até bastante artísticos.
Sabíamos que um must see da cidade era o museu Te Papa que tem 6 andares com a história do país, do lado Maori e do lado Europeu. Ficámos surpreendidos ao perceber que o museu era todo free e, inclusive, tinha free Wi-Fi em todos os andares. Este povo é mesmo único!
Passámos uma hora e meia no andar 2 e outra hora e meia no andar 4.
O andar 2 tinha a história natural da Nova Zelândia, desde os vários animais que existem nas ilhas tanto terrestres como marinhos, até à história geológica do país.
Já fizemos check em muitos dos animais que estavam no museu, o único que realmente tivemos pena de não ver foi a baleia. No tecto estava pendurado um esqueleto de baleia que tinha alguns 10 metros de comprimento e mais à frente na exposição vimos uma imitação de um coração de baleia onde cabia o nosso Smart tranquilamente...Impressionante!
Ainda no mesmo andar, havia um espaço dinâmico dedicado exclusivamente à história geológica do país que contava ao pormenor a evolução da Ilha ao longo dos anos.
Quando éramos todos um só continente, a Nova Zelândia era pegada ao sul da Austrália e devagarinho foi sendo afastada para o lado Este, ao longo da fenda que separa a placa Australiana da placa do Pacífico.
Essa fenda passa no meio do país atravessando as duas ilhas (norte e sul) verticalmente. É realmente espantoso aprender como se formaram estas ilhas e as razões pelas quais são tão montanhosas e vulcânicas.
Por causa desta grande fenda o país está em constante mutação sofrendo periodicamente terramotos grandes e diariamente terramotos ligeiros. Para dar uma noção da intensidade dos terramotos aos visitantes, existe um pequena casa interativa que é um simulador de um tremor de terra. Tem tanto de fascinante como de assustador! É de tal maneira real que Ana saiu a meio porque não se estava a sentir confortável...
Depois de termos aprendido as noções básicas dos vulcões e o impacto que tiveram, e continuam a ter, na paisagem e consequentemente na vida dos neozelandeses, seguimos para o 4o andar.
Começámos pela exposição da história dos Maori que em 1800 tinham várias tribos em constante guerra. À volta de 1820 há uma tribo que na sua migração da ilha norte para a ilha sul começa a tomar conta de vários territórios de outras tribos. Algures durante este processo, um dos chefes dessa tribo foi perseguido por uma tribo inimiga e escondeu-se no acampamento de uma terceira tribo. É quando está escondido à espera que os inimigos vasculhem a terceira tribo e sigam caminho sem o encontrar, que começa a entoar o Haka Mate, o hino que foi tornado mundialmente famoso pela equipa de rugby neozelandesa.
Em 1840 foi assinado o Tratado de Waitangi, entre as tribos Maori e a coroa inglesa, que dizia que todas as terras da nova Zelândia seriam governadas pelos ingleses mas ficaria propriedade das tribos tudo aquilo que tinha adquirido e que era seu por direito. À medida que mais imigrantes iam chegando à Nova Zelândia era necessário mais espaço e consequentemente o tratado foi sendo quebrado. Até que em 1842 o povo Maori começa a revoltar-se e os ingleses prendem o chefão das tribos, obrigando as tribos a cederem todas as suas terras em troca da libertação do chefão. Desde aí que existe uma grande batalha legal entre os Maori e o governo neozelandês porque efectivamente o tratado foi quebrado e o povo tenta restituir aquilo que foi acordado. No fim da exposição têm referências a famílias europeias que ainda hoje persistem por cá.
Antes de irmos subimos ao último andar para ver a baía de um ponto mais alto.
A seguir ao almoço passámos na lavandaria e, de volta à nossa caravana, seguimos viagem para norte em direção ao centro da ilha. A viagem deve ser longa, para aí umas 5 ou 6 horas.
No início o cenário é de costa e praia com água azul. Agora o trânsito é uma constante o que marca a diferença para a outra ilha - olha, olha, cuidado! *PUM* pronto, um pássaro gigante bateu-nos no vidro :/ . Depois começa uma paisagem interminável de pastos verdes em planícies e ligeiros montes, recheados com as nossas queridas companheiras de viagem, as ovelhas.
Ao fim de algumas horas saímos da estrada principal para esticarmos as pernas. Nisto damos de caras com um rio completamente isolado onde alguém teve a brilhante ideia de fazer um campervan Park na margem onde o rio curva, mesmo giro!
King and Queen of the bush
Escurecia devagar e logo vimos que ia acontecer o que ainda não tinha acontecido até agora, íamos guiar durante a noite. Quando a noite cerrou começou um espectáculo no céu de fazer inveja a muitas das paisagens que tínhamos visto. As estrelas eram tantas, mas tantas que até fazia confusão aos olhos. Parámos para ver com atenção e parecia que estávamos no planetário mas com o som de um riacho de fundo e rodeados de árvores! Um momento muito único!
Debaixo da escuridão da estrada sem luzes mas com vários camiões do tipo dos Transformers com várias formas, feitios e cores luminosas continuámos até Ohakune onde íamos passar a noite.