Mine, my precious, Taupo
O dia está com um sol radioso e parece que assim se vai manter. Tomámos um granda banho (provavelmente o melhor duche até agora, até tinha um aquecedor de toalhas.. a Ana demorou 1 hora lá dentro) e arrancámos em direção à zona vulcânica de Taupo.
Quando saímos do parque vimos no horizonte uma montanha cheia de neve que não tínhamos reparado à chegada porque era de noite.
Andámos mais uns kilometros e aparecem mais 2 grandes montanhas no horizonte. Ao olhar para uma delas com mais atenção existe um reconhecimento estranho daquele monte quase triangular e que podia ser um arquétipo de todas as montanhas desenhadas por crianças na escola. Claro que sim, se colocarmos um olho de fogo por cima faz todo o sentido, de repente estamos a passar por Mordor e aquele é o Mount Doom! É o excitex do Lord of The Rings e tiramos 17 mil fotografias!
O caminho até Taupo faz-se à volta destas 3 grandes montanhas que são na realidade vulcões e um deles está activo! Uma vegetação seca e acastanhada cobre o terreno todo até à base das montanhas e, pelo que aprendemos no museu Te Papa, isto faz sentido porque as cinzas de erupções não muitos distantes tornam o solo muito infértil. Claro que na nossa cabeça a única coisa que realmente interessa são os Orcs que estão ali... algures...
Contornamos os vulcões e começamos a ver o lago Taupo. A coisa engraçada e ligeiramente avassaladora ao olhar para este lago de dimensões gigantes é que na realidade ele é uma cratera de um massivo vulcão que teve uma abismal erupção há cerca de 25 mil anos ("Uau mas como é que eles sabem isto tudo?" Perguntam vocês. É porque estamos muito atentos nos museus que visitamos noutros países :P). A consequência deste facto é que agora estamos sempre em zona vulcânica, na verdade os outros vulcões estão ligeiramente em cima deste (medinho, muito medinho).
Ouvimos uns pequenos barulhos e rugidos que parecem vir de dentro da terra enquanto olhamos para a paisagem num miradouro... É hora de almoço e o estômago faz-se ouvir!
Seguimos para a cidade de Taupo sempre junto á margem do lago, o cenário é lindo e está claramente ao nível das paisagens que já tínhamos visto na ilha Sul, com verdes vivos e uma água azul que só não espelha o céu porque está um bocado de vento. Ao fundo avistamos as montanhas vulcânicas que enfeitam a linha do horizonte dando a esta cidade um carisma digno de postal.
Quem passa férias em Taupo devem ser os mais abastados da Nova Zelândia. As casas são casarões à beira do lago e nas ruas circulam grandes carros. Resorts, spas, campos de golf, lojas de produtos para esquiar e restaurantes fancy fazem o turismo desta cidade. E nós como bons turistas que somos, sem saber ao que íamos, acabámos por ficar num parque de campismo todo luxuoso junto ao centro. Por luxuoso entenda-se um campismo com piscina aquecida, cabines com quartos com mais de 3 metros quadrados, campo de tennis, de volley e basket, sala de conferências, etc. Mas o que realmente interessa é apenas uma coisa: tem duches de água quente com paredes, banquinho, secador do cabelo e cabide? Sim! Então é de luxo!
Depois de um almoço espetacular no Dixies Brown (a empregada de mesa que nos serviu que parecia russa está cá a trabalhar há 1 ano e pediu-nos conselhos da nossa viagem pela ilha sul, estamos uns verdadeiros locais!!!) fomos fazer o Rio Huka num jet boat de 600 cavalos, com dois motores v8 que precisa apenas de um palmo de água para chegar aos 80 km/hora.
O rio que começava numa cascata imensa e acabava num dick tinha a água completamente transparente.
Entramos no barco e a primeira coisa que o Liam (o nosso rider) faz é um 360 que mete logo todos em sentido. Depois pára o barco, dá algumas explicações de segurança e arranca a fundo contra uma árvore que está caída na margem do rio e...... tranca o volante para a esquerda e depois para a direita lançando o rabo do barco num efeito de chicote para a esquerda, falhando a árvore por um cagagésimo de centímetro.... É em momentos como este que pensas que vais morrer e passa-te a vida em frente aos olhos: aquele casamento perfeito que tiveste, o quanto adoras a tua família, aquela despedida da vida de solteiro que foi para lá de épica, o quanto o teu cão significa para ti, tipo filme, sabem?
Mas não acabou aqui, a coisa ficou muito pior! O percurso é feito sempre junto à margem rasando árvores, fazendo slalom entre barrotes de madeira propositadamente postos no meio do rio quase atropelando os patos e cisnes que nadavam tranquilamente e intercalando todos estes obstáculos com 360's cada vez mais violentos.
Saímos de lá com o estômago na garganta mas com uma estranha alegria de viver.
No retorno à cidade reparámos que existiam vários trilhos vulcânicos para explorar e decidimos embarcar num deles. Fomos parar ao Thermal Valley Walk que era basicamente o jardim de um senhor idoso muito simpático. O passeio demorava cerca de 30min e levou-nos por um valezinho onde tudo fumegava e o cheiro a enxofre era nauseabundo (já descobrimos de onde vem a cara que a Ana faz às vezes). Por entre pontes e riachos o cenário que estávamos a assistir tinha algo de místico, com buracos no chão que cuspiam um ar quente e uma vegetação meio seca meio verde derivado do ambiente em que está. Muito giro caminhar em chão vulcânico activo.
À saída do passeio fomos recebidos por vários membros da nossa família animal: uns pavões, uns patinhos, umas galinhas e uns pintainhos. Todos eles foram a correr ter com a Ana quando ela se ia por em posição para fotografar um dos pavões macho que estava de penas eriçadas. O espírito Piriquito é forte nela!