Acordar numa cidade vulcânica podia ser muito fixe, mas não é! O cheiro a enxofre logo pelas 8h da manhã era tão intenso que parecia que tínhamos acordado dentro de um cano do esgoto. Rapidamente nos levantámos, tomámos banho e fomos embora do parque de campismo. Mas logo percebemos que a cidade estava toda perfumada com aquele cheirinho agradável, não era só o parque de campismo era Rotorua inteira! O Rough Guide já nos tinha avisado que íamos perceber quando estávamos a chegar a Rotorua pelo cheiro.. Mas ontem quando chegámos os ventos deviam estar a favor da nossa estadia e não revelaram o pivete que esta cidade tem!
Mais pivete, menos pivete, a verdade é que Rotorua é uma cidade bonita junto ao Lake Rotorua e muito conhecida pelos parques vulcânicos e pelas mais variadas actividades de adrenalina que oferece. Como bons turistas que somos, não quisemos perder os must do's e fomos logo as 10 da manhã fazer um Swoop, um género de bunge jumping com swing. A sensação não é exactamente a mesma que a que tivemos no bungee de Queenstown, logo no início da viagem. Desta vez somos içados até uns bons 60 metros, ficamos pendurados e a Ana puxa uma corda que nos solta e nos faz cair em queda livre cerca de 40 metros. Parece que o estômago fica lá em cima enquanto tudo o resto cai... Bom dia, alegria!!!! Logo a seguir, ainda no mesmo Parque, Agroventure Park, fomos fazer um simulador de free falling. O que é isso? Perguntam vocês! É uma ventoinha muito potente apontada ao céu que tem uma rede por cima onde nos deitamos. À medida que a ventoinha vai ganhando potência nós vamos lentamente começando a voar na vertical e com a ajuda do instrutor vamos mantendo o equilíbrio. A Ana como é levezinha rapidamente tocou na rede de segurança que está por cima de nós para garantir que não voamos e desaparecemos no universo. O mesmo não se pode dizer da baba que saiu boca fora em direcção ao céu :P Acreditem, não é fácil controlar tanta força de vento no nosso corpo utilizando apenas a posição dos braços e das pernas para manter o equilíbrio. Após o nosso pequeno almoço de adrenalina, fomos ver os bichinhos que estavam no terreno ao lado e fizemos mais um amigo pássaro!
Antes de nos despedirmos do cheiro a enxofre, fomos visitar os Government Gardens, um jardim todo bem mantido junto a um edifício com spas e água termais.
Almoçámos pelo centro e seguimos viagem para Hobbiton. Para nos certificarmos que não chegávamos depois de fechar, fomos com 1 hora e meia de antecedência! Chegados a Hobiton fomos fazer check in e ao entrar no autocarro que fazia a tour ficamos muito felizes em saber que o grupo era pequeno. Hobbiton está inserido numa quinta cujos proprietários são uma família de nome Alexanders. A quinta é maioritariamente de ovelhas, sendo que tem cerca de 4mil bolas de lã com pernas. Logo ao entrar na quinta percebe-se o porquê de terem escolhido este sítio, cheio de vales e montes verdes até perder de vista sem nenhuma construção humana no horizonte. A nossa guia, Rosie, explicou-nos que em 1998 um olheiro de paisagens para o filme Lord of the Rings bateu à porta do Senhor Alexander numa tarde de rugby. Por sorte apanhou o intervalo do jogo senão o senhor nem tinha aberto a porta... O olheiro, que tinha visto a quinta de avião, pediu para dar um passeio e o senhor disse-lhe que ele podia mas tinha de ir sozinho por causa do jogo. A única condição era fechar sempre os portões para as ovelhas não se misturarem.. Mal sabia ele que a vida ia mudar radicalmente a partir daquela tarde!
Foi assim que nasceu a aldeia Hobbiton ou Shire se tivermos em Middle Earth.
A entrada da aldeia faz-se por um cenário do primeiro filme do Senhor dos Anéis, quando o Gandalf e o Frodo conversam pela primeira vez à entrada do Shire. A partir daí começamos a ver aquilo a que eles chamam de Hobbit Holes, as casas dos Hobbits. A vista é mágica!
A aldeia está construída em vários níveis de montes verdes muito bem cuidados. As portinhas redondas das casas são sempre acompanhadas de uma entrada, um jardim, uma mesinha, um carrinho de mão com lenha.... um qualquer pormenor de tal maneira bem pensado e bem feito que nos leva directamente para dentro do mundo dos Hobbits. No centro da aldeia está uma horta onde todos os legumes, flores, plantas, etc são verdadeiras e cuidadas todos os dias.
À medida que vamos subindo o Shire pelos caminhos de terra feitos por entre o verde do prado, ficamos maravilhados com a quantidade de flores plantadas e pormenores que nos levam a pensar que um Hobbit saiu dali há 5 minutos. Por exemplo, a roupa de Hobbit estendida no estendal, as chávenas de chá em cima da mesa com o bule meio cheio, as maçãs no cesto ao lado da árvores com um escadote que parece para crianças. Tudo aqui é pequeno, tudo aqui é mágico.
Fomos seguindo em direção à casa, no topo da aldeia chamada Bag End, que como quem viu o filme sabe é onde mora o famoso Hobbit que deu origem à história, o Bilbo Baggins. A casa é uma das 3 únicas réplicas que existem no mundo (outra é no estúdio em Wellington e outra no jardim da casa neozelandesa do realizador do filme) e os detalhes são tão trabalhados quanto aquilo que aparece no filme.. porque aparece no filme! A árvore por cima da casa é estupidamente bem feita, embora seja artificial ninguém conseguiu perceber isso até a Rosie dizer... e estávamos a menos de 5 metros! (Ficámos com uma das folhas falsas..mesmo à Tuga precisávamos do brinder) Continuando a nossa visita vamos descendo de volta à base da aldeia para a zona onde foi filmada a festa onde o Bilbo desaparece usando o Anel! A cada passo do caminho uma pessoa fica cada vez mais imersa naquele mundo rodeado daquelas montagens genialmente detalhadas e pormenorizadas.
A direção da visita é em direção ao Green Dragon Inn, o bar da aldeia! De facto este bar está a funcionar e até se pode jantar se houver uma reserva. Lá dentro os detalhes continuam de forma exímia e ainda temos uma cerveja Pale Ale como parte da visita. Bebemos com o espírito mais Senhor dos Anéis de sempre! A sair dali sentimos que temos de rever os filmes todos das trilogias, claro!
O caminho continuou em direção a Tauranga. Com calma e entre conversas íamos desligando da magia dos Hobbits.. muito devagar para não ser um choque! Tauranga é uma cidade já maiorzinha e fica numa zona de grande influência Maori. Isso é visível porque os prados parecem menos organizados ... menos ingleses! Chegámos ao fim da tarde ao nosso holliday park e, mais uma vez, parece que acumulámos bom karma em algum lado. Temos um lugar óptimo com uma vista incrível para uma das baías de Tauranga dentro do próprio parque. Se tivéssemos reservado provavelmente não tínhamos conseguido encontrar uma vista tão boa!
Acabamos o dia com um Burrito caravan-made e com um copo de vinho da quinta neozelandesa "Ao calhas"! Um fim de dia espectacular para um dia que não merecia nada menos!
Taupo é muito confortável, de tal forma que hoje dormimos 11 horas. Infelizmente acordámos para um céu branquindo com nuances cinzentas que embora não parecesse que trouxesse chuva deixa o dia com outra energia. Com a noção que esta era claramente uma cidade excepcionalmente bonita, demos uma última volta à margem do lago para nos despedirmos da paisagem "postal" que nos recebeu no dia anterior. Hoje a rota tinha um desvio propositado porque queríamos ir ver as Waitomo Glow Worm Caves que estavam a cerca de 2 horas de distância para oeste e a direção geral é norte. Lá fomos nós por montes, vales e prados verdinhos. Desta vez com pitadas de pedra rochosa no meio das planícies dando um ar meio countryside inglês à paisagem. As ovelhas também parece que foram substituídas por vacas... Milhares e milhares de vacas. (Mas existem sempre umas ovelinhas branquinhas a mascar um verde).
Chegados a Waitomo fomos fazer check in na tour das Glow Worms. Haviam várias opções de tours, umas mais outras menos preenchidas, mas acabamos por escolher a mais clássica que incluía cerca de 1 hora de passeio pela gruta. Aparentemente mais 50 pessoas escolheram esta opção e as tours eram guiadas portanto sentíamos-nos como duas ovelhas num grande rebanho que tenta caber num Mini. Lá fomos gruta abaixo em busca das minhocas luminosas. O caminho era feito entre estalactites e estalagmites que ao longo dos anos iam crescendo e eventualmente algumas delas juntavam-se e faziam pilares. Aprendemos a decorar uma coisa para a vida: "estalactites are tied to the ceilling, estalagmites might reach the ceilling" (isto com um sotaque neozelandês). Numa certa zona da gruta, o nosso Guia pergunta ao grupo se alguém faz anos hoje ou nos próximos tempos. Ninguém levantou a mão.. Ele pergunta segunda vez... O Diogo acabou por levantar o braço e dizer que fazia anos daqui a uns 6 meses... O que foi o suficiente para pôr o grupo todo a cantar-lhe os parabéns de forma a exemplificar a acústica espetacular que a gruta tinha. Aparentemente já cantaram naquela gruta pessoas famosas como o Stevie Wonder e a Katy Perry. E agora nós, claro! Após as cantorias, seguimos para um barco que, no meio do escuro e completamente em silêncio, nos levava por um rio a ver as tais minhocas luminosas. Um espetáculo único! A gruta estava agora coberta de milhões de pontinhos verdes/azuis brilhantes! Foi, sem dúvida, um momento Rei Leão sobre o que são as estrelas: "- Timon, alguma vez imaginaste o que são aqueles pontos brilhantes lá em cima?; - Pumba, eu não imagino, eu sei! São pirilampos.. Pirilampos que ficaram colados aquela coisa grande azul escura". Obrigado a quem nos ajudou a fazer este check na nossa lista!!
Saímos do rebanho de Waitomo e a próxima paragem é uma muito ansiada.. Hobbiton, a aldeia dos Hobbits. A viagem é longa e quase toda na mesma estrada de chegada a Waitomo, mas no sentido inverso. Chegámos à entrada das tours, o Shire's Rest, e damos de caras com o Gandalf... bem... não era o próprio, era só um rapazote mascarado. Perguntámos-lhe a que horas eram as tours e a resposta foi "I don't know.. I don't work here!". Olhámos uns para os outros e realizámos a situação caricata que tinha acontecido soltando uma risada. Ele era só um fã de visita aparentemente! Fomos então comprar o bilhete... mas está fechado.. A última tour saiu fazia 40 min. Desilusão total! Temos de fazer 1 hora de viagem até Rotorua que seria a próxima paragem.. A coisa ficou pesada energética e fisicamente. Mas não íamos desesperar, este fim de dia ainda ser recuperado, enfiámos a cabeça no guia e descobrimos um Wildlife Park mesmo à entrada de Rotorua aberto até ás 9.30pm. Uma hora de viagem e qual é a nossa surpresa quando à entrada tem anunciado que eles têm Kiwis (o pássaro símbolo nacional neozelandês que está em vias de extinção e só existe nesta parte do mundo) e o papagaio Kea (também em vias de extinção e também só existe nesta parte do mundo). Entrámos no parque e percebemos que era muito bem mantido. Tinha uma vegetação muito diversa, incluindo o Fern que é o símbolo dos All Blacks, trutas, répteis, aves locais (algumas já tínhamos visto) e o raro Kea. Como o Kiwi é uma ave noctívaga tivemos de regressar ao parque depois do jantar.
Jantámos muito rápido no centro da cidade num restaurante de BBQ, mas não sem antes dar uma desanda na malta do Nando's por terem um prato no menu chamado "Portuguese Paella".
Quando voltámos os Kiwis já tinham acordado e já se podia entrar no espaço onde eles estavam. Muito silenciosamente entrámos e passados 2 minutos lá apareceu o famoso pássaro! Do tamanho de uma bola de rugby e com um bico muito comprido e fininho andava-se a passear no meio dos arbustos. Tem um ar muito fofinho, tipo almofada, e quase não tem asas. Apetece agarrar e levar para casa!
O dia está com um sol radioso e parece que assim se vai manter. Tomámos um granda banho (provavelmente o melhor duche até agora, até tinha um aquecedor de toalhas.. a Ana demorou 1 hora lá dentro) e arrancámos em direção à zona vulcânica de Taupo. Quando saímos do parque vimos no horizonte uma montanha cheia de neve que não tínhamos reparado à chegada porque era de noite. Andámos mais uns kilometros e aparecem mais 2 grandes montanhas no horizonte. Ao olhar para uma delas com mais atenção existe um reconhecimento estranho daquele monte quase triangular e que podia ser um arquétipo de todas as montanhas desenhadas por crianças na escola. Claro que sim, se colocarmos um olho de fogo por cima faz todo o sentido, de repente estamos a passar por Mordor e aquele é o Mount Doom! É o excitex do Lord of The Rings e tiramos 17 mil fotografias! O caminho até Taupo faz-se à volta destas 3 grandes montanhas que são na realidade vulcões e um deles está activo! Uma vegetação seca e acastanhada cobre o terreno todo até à base das montanhas e, pelo que aprendemos no museu Te Papa, isto faz sentido porque as cinzas de erupções não muitos distantes tornam o solo muito infértil. Claro que na nossa cabeça a única coisa que realmente interessa são os Orcs que estão ali... algures...
Contornamos os vulcões e começamos a ver o lago Taupo. A coisa engraçada e ligeiramente avassaladora ao olhar para este lago de dimensões gigantes é que na realidade ele é uma cratera de um massivo vulcão que teve uma abismal erupção há cerca de 25 mil anos ("Uau mas como é que eles sabem isto tudo?" Perguntam vocês. É porque estamos muito atentos nos museus que visitamos noutros países :P). A consequência deste facto é que agora estamos sempre em zona vulcânica, na verdade os outros vulcões estão ligeiramente em cima deste (medinho, muito medinho). Ouvimos uns pequenos barulhos e rugidos que parecem vir de dentro da terra enquanto olhamos para a paisagem num miradouro... É hora de almoço e o estômago faz-se ouvir!
Seguimos para a cidade de Taupo sempre junto á margem do lago, o cenário é lindo e está claramente ao nível das paisagens que já tínhamos visto na ilha Sul, com verdes vivos e uma água azul que só não espelha o céu porque está um bocado de vento. Ao fundo avistamos as montanhas vulcânicas que enfeitam a linha do horizonte dando a esta cidade um carisma digno de postal. Quem passa férias em Taupo devem ser os mais abastados da Nova Zelândia. As casas são casarões à beira do lago e nas ruas circulam grandes carros. Resorts, spas, campos de golf, lojas de produtos para esquiar e restaurantes fancy fazem o turismo desta cidade. E nós como bons turistas que somos, sem saber ao que íamos, acabámos por ficar num parque de campismo todo luxuoso junto ao centro. Por luxuoso entenda-se um campismo com piscina aquecida, cabines com quartos com mais de 3 metros quadrados, campo de tennis, de volley e basket, sala de conferências, etc. Mas o que realmente interessa é apenas uma coisa: tem duches de água quente com paredes, banquinho, secador do cabelo e cabide? Sim! Então é de luxo! Depois de um almoço espetacular no Dixies Brown (a empregada de mesa que nos serviu que parecia russa está cá a trabalhar há 1 ano e pediu-nos conselhos da nossa viagem pela ilha sul, estamos uns verdadeiros locais!!!) fomos fazer o Rio Huka num jet boat de 600 cavalos, com dois motores v8 que precisa apenas de um palmo de água para chegar aos 80 km/hora.
O rio que começava numa cascata imensa e acabava num dick tinha a água completamente transparente. Entramos no barco e a primeira coisa que o Liam (o nosso rider) faz é um 360 que mete logo todos em sentido. Depois pára o barco, dá algumas explicações de segurança e arranca a fundo contra uma árvore que está caída na margem do rio e...... tranca o volante para a esquerda e depois para a direita lançando o rabo do barco num efeito de chicote para a esquerda, falhando a árvore por um cagagésimo de centímetro.... É em momentos como este que pensas que vais morrer e passa-te a vida em frente aos olhos: aquele casamento perfeito que tiveste, o quanto adoras a tua família, aquela despedida da vida de solteiro que foi para lá de épica, o quanto o teu cão significa para ti, tipo filme, sabem? Mas não acabou aqui, a coisa ficou muito pior! O percurso é feito sempre junto à margem rasando árvores, fazendo slalom entre barrotes de madeira propositadamente postos no meio do rio quase atropelando os patos e cisnes que nadavam tranquilamente e intercalando todos estes obstáculos com 360's cada vez mais violentos. Saímos de lá com o estômago na garganta mas com uma estranha alegria de viver. No retorno à cidade reparámos que existiam vários trilhos vulcânicos para explorar e decidimos embarcar num deles. Fomos parar ao Thermal Valley Walk que era basicamente o jardim de um senhor idoso muito simpático. O passeio demorava cerca de 30min e levou-nos por um valezinho onde tudo fumegava e o cheiro a enxofre era nauseabundo (já descobrimos de onde vem a cara que a Ana faz às vezes). Por entre pontes e riachos o cenário que estávamos a assistir tinha algo de místico, com buracos no chão que cuspiam um ar quente e uma vegetação meio seca meio verde derivado do ambiente em que está. Muito giro caminhar em chão vulcânico activo.
À saída do passeio fomos recebidos por vários membros da nossa família animal: uns pavões, uns patinhos, umas galinhas e uns pintainhos. Todos eles foram a correr ter com a Ana quando ela se ia por em posição para fotografar um dos pavões macho que estava de penas eriçadas. O espírito Piriquito é forte nela!