Um dia no paraíso do século XVII
Primeira noite na caravana, na nossa Lua de Mel, no meio de um bosque junto a um lago gigante rodeado de montanhas, umas com neve outras verdes, super romântico não acham??
NOT!!!
Acordámos com o cérebro completamente congelado, meter um dedo fora do edredão era pior do que uma tortura chinesa. Claramente ainda não aprendemos os truques dos caravanistas. Saltámos da cama e metemos o aquecedor no máximo, fizemos umas grandes torradas e tomamos um banho quente nos showers do parque de campismo. Revitalizante!
Acabámos por perceber que tínhamos que vedar as paredes da caravana junto à cama com almofadões para não deixar o frio entrar assim à campeão por ali a dentro. Vamos lá ver na próxima noite!
Fizemos a mochila e fomos pelo bosque fora, cerca de 5 minutos a pé, até um ancoradouro onde estava o barco que nos levava um dia inteiro numa viagem até aos fiordes de Doubtfull Sound.
Apanhámos o barco e fizemos uma viagem de cerca de 1 hora pelo Lake Manapouri, rodeado por mil e uma montanhas muito altas, muitas delas com neve que ainda resta do inverno que passou. Fomos neste barco até a outro ancoradouro onde está a Manapouri Power Station, uma estação hidráulica que é capaz de fornecer energia a toda a Ilha Sul da Nova Zelândia,
Daqui fomos levados, nós e mais uma dúzia de chineses (aka Nocas, para ninguém perceber), de autocarro por um tracking nas montanhas onde o cenário mais se assemelha ao filme Jurássico Park. Com vegetação intocada com cataratas gigantes a sair do meio das pedras, árvores cobertas de musgo verde vivo com formas surreais e vários arco-íris (não porque chovia mas porque estávamos à altura das nuvens). Tudo isto numa mini estrada de gravilha que de um lado tinha cascatas e do outro um precipício que ía dar aos imensos lagos dos fiordes. Algumas montanhas tinham neve no cume, outras apenas os vários tons de verde dos antigos outfits do Diogo.
A viagem de autocarro durou 1 hora e foi animada pelo Chris, o condutor que tinha sempre uma piadola na ponta da língua!
Chegámos a outro ancoradouro onde tínhamos uma nova tripulação à nossa espera típica neozelandesa, sempre com um mega sorriso na cara e umas palavras muito simpáticas. Nesta tripulação estava a Eugenia, uma senhora tripeira que fez questão de dar um mega abraço à Ana e contar a vida toda. Como boa portuguesa, ofereceu-nos um granda expresso à pala! Obrigada Dona Eugenia!
Entrámos neste novo barco e seguimos viagem por uma artéria dos fiordes que ia até Doubtfull Sound, a entrada do Tasman Sea.
De forma a perceberem um décimo da beleza que isto é, vamos tentar utilizar metáforas e analogias porque de outra maneira não é possível!
Estes fiordes foram descobertos no século XVIII por James Cook, o explorador britânico, que ao chegar pelo Tasman Sea a Doubtfull Sound teve receio de não conseguir dar a volta e não entrou pelo braço (artéria) que nós fizemos de barco (daí o nome Doubtfull).
À medida que navegamos no braço de água vão aparecendo montanhas com 700 e 800 metros de altura, pela esquerda e pela direita, que nascem junto à água com praias de gravilha. Crescem com vegetação densa de árvores enraizadas na pedra e cataratas que aparecem, quase que magicamente, em rachas onde não existe vegetação. As montanhas chegam até às nuvens sendo por vezes impossível de ver o cume.
Agora imaginem isto ao longo de quilómetros e quilómetros de lago, com mil e um braços a saírem deste principal, como se fossem veias a sair de uma artéria. E cada montanha encavalitada noutras cinco criando vales e riachos dignos de pinturas de museu.
E nós ali, a navegar por esta paisagem fora como se estivéssemos no século XVIII na tripulação do Cook a encorajá-lo para continuar em frente e descobrir um mundo mágico que estava à sua espera!
Avançámos até ao ponto chamado Doubtfull Sound, mas como o mar estava bravo não podemos ir ver a colónia de focas :( No entanto, parámos na ilha dos pinguins e houve um que saiu da toca como quem sabia que estávamos ali todos à espera para lhe tirarmos uma foto! Granda Piriquito Bailarino de sobrancelhas amarelas e fato preto!
Foi aqui que demos meia volta e voltámos para trás. Não antes de pararmos num dos braços secundários, o Crooked Arm, para desligar os motores e apreciar o silêncio puro dos fiordes durante 5 minutos, sem falar nem sequer andar dentro do barco.
Como se fossem chamados pela tranquilidade do silêncio, apareceram um grupo de golfinhos aos pulos atrás do barco, marcando assim o fim dos 5 minutos e proporcionando um espetáculo de dança marinha brutal!
Golfinhos Check
Pinguins Check
Ficaram a faltar as focas e as baleias, mas estamos de barriguinha cheia! :)
A última paragem do barco, antes de voltarmos a apanhar o autocarro de volta para o Lake Manapouri, foi junto a uma das montanhas que tinha uma cascata que escorria água das mais puras do mundo. Fomos buscar a nossa chávena de chá, deitamos o chá fora, e enquanto a Ana levava uma molha de água pura encheu um cup of pure water para bebermos três golos.
Regressámos à caravana de alma preenchida, olhos limpos, pulmões revitalizados e com a perfeita noção que este será o sítio mais bonito que vamos ver nesta viagem, quem sabe nesta vida!
Depois de uma sesta merecida, sim porque as 18h dá-nos sempre um sono estranho que parece que se não fecharmos os olhos vamos ficar sem eles, fizemos o jantar na cozinha comunitária e lavámos roupa na lavandaria comunitária.
Às 22h metemos os almofadões a vedar as paredes da caravana e dormimos que nem uns anjinhos!
What a day! :)