Hoje é um dia diferente! Começámos pela clássica rotina do chuveiro e das torradas mas é a última rotina que vamos repetir destas últimas 2 semanas e meia. Mas isto sem tristeza nostálgica que nos prenda às maravilhosas experiências que vivemos ultimamente. Decidimos (em conversa pré-adormecer) que viver o momento é que é, e o momento é o de arrumar o nosso ninho-mobile para arrancar para a maior cidade da Nova Zelândia, Auckland. A arrumação tem um bocado que se lhe diga porque afinal de contas estamos há 15 dias a viver aqui e temos de nos certificar que não fica nada para trás.. É que a Nova Zelândia deve estar lá para os 19000kms de Portugal por isso não será fácil reaver coisas com certeza. A Ana mete o modo furacão, o Diogo vai de embalo e fica tudo nos trinques em 1 horinha e qualquer coisa. A viagem é supostamente de 1:30 horas (se formos com calma) mas quando começamos a chegar à periferia de Auckland apercebemo-nos que vai demorar um bocado mais e começa a ressurgir aquele bicho maléfico que vive dentro de todos nós e só surge na estrada congestionada.. aparentemente o trânsito desta cidade é uma característica conhecida e temida pelos locais.
À medida que vamos entrando cidade adentro o excitex aumenta. Parece uma nova viagem! Vamos em direção ao Sky Tower porque vamos ficar no Sky City Grand Hotel (miminhos para os meninos... Afinal tivemos a viver numa caravana estes últimos tempos). O hotel é mesmo no centro é ideal para passear e conhecer algumas das zonas mais famosas da cidade. Fazemos check in e vamos até ao elevador que nos leva ao nosso andar. Pelo caminho temos os dois a sensação que somos dois extraterrestres caídos ali. Afinal de contas a última vez que tínhamos visto um homem de fato e uma mulher de saltos altos tinha sido há três semanas, no nosso casamento. Bom, mas não nos deixamos afectar pelo facto de parecermos uns pelintras e vamos cheios de confiança elevador acima até ao 1003. Abrimos a porta do quarto como se fôssemos umas crianças a abrir o primeiro presente no natal e ficámos rendidos ao paraíso ... uma casa de banho mais limpa do que a nossa casa, uma cama mais confortável que o pêlo de uma ovelha, uma máquina de café Nespresso (que ninguém se atreva a beber porque devem ser uns 10 dólares o shot), uma janela com vista panorâmica para a Sky Tower que parecia uma televisão e uma televisão plasma HD que parecia uma janela. Deixámos as nossas malas no quarto e fomos entregar a nossa caravana ao stand da Maui que era, só e mais nada, a 20 km de distância. Contendo a nossa emoção e mantendo o prometido sorriso dissemos um adeus muito sentido à nossa companheira de viagem.
A nossa base agora é a Sky Tower, o edifício mais alto do hemisfério sul (alguém sabe qual o mais alto do hemisfério Norte?) e portanto um fácil ponto de orientação. Seguimos Queen Street abaixo, uma das artérias principais da cidade. Deu para perceber logo que existia um misto giro entre edifícios antigos e modernos. Na rua as pessoas movimentam-se em massa dos dois lados da avenida já indiferentes às dezenas de joalharias, lojas de souvenirs, restaurantes de fast food e lobbies de entrada de prédios de consultoras, bancos e seguradoras. Já eram 3 da tarde e a fome apertava tremendamente por isso fomos comer a um mexicano que vimos numa ruazinha perpendicular à avenida. Calhou-nos na rifa um burrito que mais parecia uma pequena almofada de sofá! Mesmo o que estávamos a precisar! Barriguinha cheia e descemos em direção ao porto onde acabava a avenida. No fim estava um prédio clássico muito bem tratado que é de onde saem os barcos para as lhas em frente à cidade que são habitadas como se fossem mais um bairro. Chegando à zona intitulada de "waterfront" viramos à esquerda e fomos ver a área renovada para a Americas Cup que aconteceu por aqui. Não faltavam restaurantes e bares à beira mar, e até um Hilton. O cenário é de uma marina de 5 estrelas.
Damos a volta e o vento começa-se a levantar de forma muito desagradável. Vamos de retorno para o hotel mas sempre a parar em lojitas aqui e ali para apreciar aquilo que são as souvenirs daqui (todas as lojas são geridas e mantidas por asiáticos, nós queixamo-nos que eles têm uma lojinha onde vendem chinesadas em Lisboa, mas eles aqui têm lojas onde vendem tudo, desde comida a produtos locais... taking over..!).
A chegada ao quarto de hotel foi uma surpresa. O Diogo referenciou que estávamos em lua de mel no check in, então eles deixaram-nos umas garrafinhas de champanhe no quarto com uma mensagem muito simpática a desejar felicidades (o Tama chicoteava os gajos se visse que o balde não tinha gelo até cima, mas vão receber um louvor no trip Adviser na mesma)!
Bebemos as garrafas, tomámos banho e fomos jantar fora feito campeões às 8:30. Claro está que a influência inglesa destes marmanjos não iria permitir grandes restaurantes abertos a essa hora.. Batemos com o nariz na porta de um e acabámos por ir comer uma pizza noutro que era tipo um pub. Mais cerveja menos cerveja decidimos dar uma volta na zona Britomart que tinha supostamente uma boa nightlife e voltámos para o hotel à 00:00. Estamos com o andamento todo... :)
A vista do amanhecer no parque de Tauranga é tão espetacular como o esperado! Tauranga é a maior cidade da região Bay of Plenty e tem uma veia artística muito forte e, supostamente, uma boa nightlife. Antes de seguirmos viagem para o próximo destino, parámos no centro da cidade para visitar e claro para a Ana beber o seu shot de cafeína matinal.
Mais uma vez, a cidade está toda desenhada à beira de uma baía e aproveitamos para fazer um passeio na rua principal junto à água. Os bares e os restaurante, uns atrás dos outros, provam a fama que a cidade tem. Depois de comprarmos um souvenir para o pequeno Pedro, afilhado da Ana, decidimos dar uma de pseudo artistas e entrámos numa galeria de arte que vimos. Tinha 3 exposições em cena: um movimento ecológico "save the ocean", outra de talismãs integrados com joalharia (fizemos o nosso talismã com palhinhas e fio, todos queridos), e a terceira era sobre a influência do homem no mundo. Dada a nossa contribuição moral para a cena artística, voltámos para a casa-van e fizemo-nos à estrada! A direção é sempre Norte e o destino era Opurere, no GPS colocámos Opurere Road centre of the street porque só queríamos chegar lá e não sabíamos nada em concreto do que havia para fazer. Chegando a Opurere, passamos por meia dúzia de casas, passamos uma entrada para um pinhal e seguimos na direção dada pelo GPS..de repente estamos numa estrada de gravilha durante 2 ou 3 km e é quando o gps diz "your destination is on the right". Olhamos nessa direção e está uma manada de vacas a curtir umas ervas com uns pinheiro por trás. Se calhar enganámo-nos! Voltámos para aquela entrada do pinhal que tínhamos passado há minutos e estacionámos. Já estava na hora do almoço e a Ana fez muito rápido uns ovos mexidos na caravana enquanto o Diogo foi ver umas placas com informação que estavam no início do pinhal. Aparentemente aquela era uma entrada para uma praia que estava do outro lado do pinhal e toda aquela área era uma zona protegida por causa dos passarinhos que lá faziam ninho. Entrámos pinhal adentro armados com uma GoPro e uma máquina fotográfica por um caminho que se abria por entre as árvores. O pinhal era denso, denso e o som de fundo era uma sinfonia de pássaros a palrar que mais parecia serem as árvores a assobiar. Passados uns minutos de passeio estamos a entrar num areal deserto de pessoas e lindo de morrer. No horizonte do mar estavam umas ilhas a uma distância que não era perto o suficiente para serem perto nem longe o suficiente para estarem longe. Ali ficámos a aproveitar a solidão romântica de um casal acabadinho de casar :)
No regresso bastou um pequeno desvio para passarmos por umas cabanas feitas de troncos e caruma. Agora o o palrar dos pássaros mais pareciam índios a comunicar.
Seguimos caminho até à famosa Hot Water Beach que aparece em todos os guias, todos os panfletos e todos os sites sobre a região. A água é formada por sais que são evaporados por uma câmara de magma formada a 2 km de profundidade, criando pequenas bolsas de água mais perto da superfície. Tão perto, tão perto, que com uma simples pá conseguimos escavar um buraco até encontrar água a escaldar de tal maneira que é preciso ir buscar água fria do mar para a arrefecer.
Acabadinhos de vir de uma praia deserta não estávamos preparados para a pequena multidão que viríamos a encontrar a escavar loucamente buracos e buracos na areia para fazer a sua mini piscina de água quente. Estão a ver Carcavelos ao Domingo? Era parecido, mas em cerca de 30 metros quadrados...
Decididos a fazer um check neste ponto da nossa lista fomos lá molhar o pézinho.
Acabámos o dia numa aventura onde quase ficámos sem parque para dormir com a caravana. Tinha passado das 18.30h (estes gajos são malucos e acham que o dia acaba as 18h) e o único parque de campismo que existia ali na zona de Hahei estava fechado e tinha a cancela em baixo. Porém, havia um número 'call only in case of emergency' para o qual ligar... Não conseguir entrar pareceu-nos uma emergência. 5 minutos depois apareceu um senhor, devia ser o dono do parque, que nos abriu a cancela e nos deixou escolher um sítio e pagar no dia seguinte de manhã. Também nos aconselhou um sítio para jantar (o único sítio na aldeia que estava aberto) que era uma cervejaria assim meio gourmet que servia pizzas (conceito difícil de engolir? Imaginem o preço). Fomos dormir debaixo de um céu estrelado e com um som de mar a embalar.
Acordar numa cidade vulcânica podia ser muito fixe, mas não é! O cheiro a enxofre logo pelas 8h da manhã era tão intenso que parecia que tínhamos acordado dentro de um cano do esgoto. Rapidamente nos levantámos, tomámos banho e fomos embora do parque de campismo. Mas logo percebemos que a cidade estava toda perfumada com aquele cheirinho agradável, não era só o parque de campismo era Rotorua inteira! O Rough Guide já nos tinha avisado que íamos perceber quando estávamos a chegar a Rotorua pelo cheiro.. Mas ontem quando chegámos os ventos deviam estar a favor da nossa estadia e não revelaram o pivete que esta cidade tem!
Mais pivete, menos pivete, a verdade é que Rotorua é uma cidade bonita junto ao Lake Rotorua e muito conhecida pelos parques vulcânicos e pelas mais variadas actividades de adrenalina que oferece. Como bons turistas que somos, não quisemos perder os must do's e fomos logo as 10 da manhã fazer um Swoop, um género de bunge jumping com swing. A sensação não é exactamente a mesma que a que tivemos no bungee de Queenstown, logo no início da viagem. Desta vez somos içados até uns bons 60 metros, ficamos pendurados e a Ana puxa uma corda que nos solta e nos faz cair em queda livre cerca de 40 metros. Parece que o estômago fica lá em cima enquanto tudo o resto cai... Bom dia, alegria!!!! Logo a seguir, ainda no mesmo Parque, Agroventure Park, fomos fazer um simulador de free falling. O que é isso? Perguntam vocês! É uma ventoinha muito potente apontada ao céu que tem uma rede por cima onde nos deitamos. À medida que a ventoinha vai ganhando potência nós vamos lentamente começando a voar na vertical e com a ajuda do instrutor vamos mantendo o equilíbrio. A Ana como é levezinha rapidamente tocou na rede de segurança que está por cima de nós para garantir que não voamos e desaparecemos no universo. O mesmo não se pode dizer da baba que saiu boca fora em direcção ao céu :P Acreditem, não é fácil controlar tanta força de vento no nosso corpo utilizando apenas a posição dos braços e das pernas para manter o equilíbrio. Após o nosso pequeno almoço de adrenalina, fomos ver os bichinhos que estavam no terreno ao lado e fizemos mais um amigo pássaro!
Antes de nos despedirmos do cheiro a enxofre, fomos visitar os Government Gardens, um jardim todo bem mantido junto a um edifício com spas e água termais.
Almoçámos pelo centro e seguimos viagem para Hobbiton. Para nos certificarmos que não chegávamos depois de fechar, fomos com 1 hora e meia de antecedência! Chegados a Hobiton fomos fazer check in e ao entrar no autocarro que fazia a tour ficamos muito felizes em saber que o grupo era pequeno. Hobbiton está inserido numa quinta cujos proprietários são uma família de nome Alexanders. A quinta é maioritariamente de ovelhas, sendo que tem cerca de 4mil bolas de lã com pernas. Logo ao entrar na quinta percebe-se o porquê de terem escolhido este sítio, cheio de vales e montes verdes até perder de vista sem nenhuma construção humana no horizonte. A nossa guia, Rosie, explicou-nos que em 1998 um olheiro de paisagens para o filme Lord of the Rings bateu à porta do Senhor Alexander numa tarde de rugby. Por sorte apanhou o intervalo do jogo senão o senhor nem tinha aberto a porta... O olheiro, que tinha visto a quinta de avião, pediu para dar um passeio e o senhor disse-lhe que ele podia mas tinha de ir sozinho por causa do jogo. A única condição era fechar sempre os portões para as ovelhas não se misturarem.. Mal sabia ele que a vida ia mudar radicalmente a partir daquela tarde!
Foi assim que nasceu a aldeia Hobbiton ou Shire se tivermos em Middle Earth.
A entrada da aldeia faz-se por um cenário do primeiro filme do Senhor dos Anéis, quando o Gandalf e o Frodo conversam pela primeira vez à entrada do Shire. A partir daí começamos a ver aquilo a que eles chamam de Hobbit Holes, as casas dos Hobbits. A vista é mágica!
A aldeia está construída em vários níveis de montes verdes muito bem cuidados. As portinhas redondas das casas são sempre acompanhadas de uma entrada, um jardim, uma mesinha, um carrinho de mão com lenha.... um qualquer pormenor de tal maneira bem pensado e bem feito que nos leva directamente para dentro do mundo dos Hobbits. No centro da aldeia está uma horta onde todos os legumes, flores, plantas, etc são verdadeiras e cuidadas todos os dias.
À medida que vamos subindo o Shire pelos caminhos de terra feitos por entre o verde do prado, ficamos maravilhados com a quantidade de flores plantadas e pormenores que nos levam a pensar que um Hobbit saiu dali há 5 minutos. Por exemplo, a roupa de Hobbit estendida no estendal, as chávenas de chá em cima da mesa com o bule meio cheio, as maçãs no cesto ao lado da árvores com um escadote que parece para crianças. Tudo aqui é pequeno, tudo aqui é mágico.
Fomos seguindo em direção à casa, no topo da aldeia chamada Bag End, que como quem viu o filme sabe é onde mora o famoso Hobbit que deu origem à história, o Bilbo Baggins. A casa é uma das 3 únicas réplicas que existem no mundo (outra é no estúdio em Wellington e outra no jardim da casa neozelandesa do realizador do filme) e os detalhes são tão trabalhados quanto aquilo que aparece no filme.. porque aparece no filme! A árvore por cima da casa é estupidamente bem feita, embora seja artificial ninguém conseguiu perceber isso até a Rosie dizer... e estávamos a menos de 5 metros! (Ficámos com uma das folhas falsas..mesmo à Tuga precisávamos do brinder) Continuando a nossa visita vamos descendo de volta à base da aldeia para a zona onde foi filmada a festa onde o Bilbo desaparece usando o Anel! A cada passo do caminho uma pessoa fica cada vez mais imersa naquele mundo rodeado daquelas montagens genialmente detalhadas e pormenorizadas.
A direção da visita é em direção ao Green Dragon Inn, o bar da aldeia! De facto este bar está a funcionar e até se pode jantar se houver uma reserva. Lá dentro os detalhes continuam de forma exímia e ainda temos uma cerveja Pale Ale como parte da visita. Bebemos com o espírito mais Senhor dos Anéis de sempre! A sair dali sentimos que temos de rever os filmes todos das trilogias, claro!
O caminho continuou em direção a Tauranga. Com calma e entre conversas íamos desligando da magia dos Hobbits.. muito devagar para não ser um choque! Tauranga é uma cidade já maiorzinha e fica numa zona de grande influência Maori. Isso é visível porque os prados parecem menos organizados ... menos ingleses! Chegámos ao fim da tarde ao nosso holliday park e, mais uma vez, parece que acumulámos bom karma em algum lado. Temos um lugar óptimo com uma vista incrível para uma das baías de Tauranga dentro do próprio parque. Se tivéssemos reservado provavelmente não tínhamos conseguido encontrar uma vista tão boa!
Acabamos o dia com um Burrito caravan-made e com um copo de vinho da quinta neozelandesa "Ao calhas"! Um fim de dia espectacular para um dia que não merecia nada menos!
Taupo é muito confortável, de tal forma que hoje dormimos 11 horas. Infelizmente acordámos para um céu branquindo com nuances cinzentas que embora não parecesse que trouxesse chuva deixa o dia com outra energia. Com a noção que esta era claramente uma cidade excepcionalmente bonita, demos uma última volta à margem do lago para nos despedirmos da paisagem "postal" que nos recebeu no dia anterior. Hoje a rota tinha um desvio propositado porque queríamos ir ver as Waitomo Glow Worm Caves que estavam a cerca de 2 horas de distância para oeste e a direção geral é norte. Lá fomos nós por montes, vales e prados verdinhos. Desta vez com pitadas de pedra rochosa no meio das planícies dando um ar meio countryside inglês à paisagem. As ovelhas também parece que foram substituídas por vacas... Milhares e milhares de vacas. (Mas existem sempre umas ovelinhas branquinhas a mascar um verde).
Chegados a Waitomo fomos fazer check in na tour das Glow Worms. Haviam várias opções de tours, umas mais outras menos preenchidas, mas acabamos por escolher a mais clássica que incluía cerca de 1 hora de passeio pela gruta. Aparentemente mais 50 pessoas escolheram esta opção e as tours eram guiadas portanto sentíamos-nos como duas ovelhas num grande rebanho que tenta caber num Mini. Lá fomos gruta abaixo em busca das minhocas luminosas. O caminho era feito entre estalactites e estalagmites que ao longo dos anos iam crescendo e eventualmente algumas delas juntavam-se e faziam pilares. Aprendemos a decorar uma coisa para a vida: "estalactites are tied to the ceilling, estalagmites might reach the ceilling" (isto com um sotaque neozelandês). Numa certa zona da gruta, o nosso Guia pergunta ao grupo se alguém faz anos hoje ou nos próximos tempos. Ninguém levantou a mão.. Ele pergunta segunda vez... O Diogo acabou por levantar o braço e dizer que fazia anos daqui a uns 6 meses... O que foi o suficiente para pôr o grupo todo a cantar-lhe os parabéns de forma a exemplificar a acústica espetacular que a gruta tinha. Aparentemente já cantaram naquela gruta pessoas famosas como o Stevie Wonder e a Katy Perry. E agora nós, claro! Após as cantorias, seguimos para um barco que, no meio do escuro e completamente em silêncio, nos levava por um rio a ver as tais minhocas luminosas. Um espetáculo único! A gruta estava agora coberta de milhões de pontinhos verdes/azuis brilhantes! Foi, sem dúvida, um momento Rei Leão sobre o que são as estrelas: "- Timon, alguma vez imaginaste o que são aqueles pontos brilhantes lá em cima?; - Pumba, eu não imagino, eu sei! São pirilampos.. Pirilampos que ficaram colados aquela coisa grande azul escura". Obrigado a quem nos ajudou a fazer este check na nossa lista!!
Saímos do rebanho de Waitomo e a próxima paragem é uma muito ansiada.. Hobbiton, a aldeia dos Hobbits. A viagem é longa e quase toda na mesma estrada de chegada a Waitomo, mas no sentido inverso. Chegámos à entrada das tours, o Shire's Rest, e damos de caras com o Gandalf... bem... não era o próprio, era só um rapazote mascarado. Perguntámos-lhe a que horas eram as tours e a resposta foi "I don't know.. I don't work here!". Olhámos uns para os outros e realizámos a situação caricata que tinha acontecido soltando uma risada. Ele era só um fã de visita aparentemente! Fomos então comprar o bilhete... mas está fechado.. A última tour saiu fazia 40 min. Desilusão total! Temos de fazer 1 hora de viagem até Rotorua que seria a próxima paragem.. A coisa ficou pesada energética e fisicamente. Mas não íamos desesperar, este fim de dia ainda ser recuperado, enfiámos a cabeça no guia e descobrimos um Wildlife Park mesmo à entrada de Rotorua aberto até ás 9.30pm. Uma hora de viagem e qual é a nossa surpresa quando à entrada tem anunciado que eles têm Kiwis (o pássaro símbolo nacional neozelandês que está em vias de extinção e só existe nesta parte do mundo) e o papagaio Kea (também em vias de extinção e também só existe nesta parte do mundo). Entrámos no parque e percebemos que era muito bem mantido. Tinha uma vegetação muito diversa, incluindo o Fern que é o símbolo dos All Blacks, trutas, répteis, aves locais (algumas já tínhamos visto) e o raro Kea. Como o Kiwi é uma ave noctívaga tivemos de regressar ao parque depois do jantar.
Jantámos muito rápido no centro da cidade num restaurante de BBQ, mas não sem antes dar uma desanda na malta do Nando's por terem um prato no menu chamado "Portuguese Paella".
Quando voltámos os Kiwis já tinham acordado e já se podia entrar no espaço onde eles estavam. Muito silenciosamente entrámos e passados 2 minutos lá apareceu o famoso pássaro! Do tamanho de uma bola de rugby e com um bico muito comprido e fininho andava-se a passear no meio dos arbustos. Tem um ar muito fofinho, tipo almofada, e quase não tem asas. Apetece agarrar e levar para casa!
O dia está com um sol radioso e parece que assim se vai manter. Tomámos um granda banho (provavelmente o melhor duche até agora, até tinha um aquecedor de toalhas.. a Ana demorou 1 hora lá dentro) e arrancámos em direção à zona vulcânica de Taupo. Quando saímos do parque vimos no horizonte uma montanha cheia de neve que não tínhamos reparado à chegada porque era de noite. Andámos mais uns kilometros e aparecem mais 2 grandes montanhas no horizonte. Ao olhar para uma delas com mais atenção existe um reconhecimento estranho daquele monte quase triangular e que podia ser um arquétipo de todas as montanhas desenhadas por crianças na escola. Claro que sim, se colocarmos um olho de fogo por cima faz todo o sentido, de repente estamos a passar por Mordor e aquele é o Mount Doom! É o excitex do Lord of The Rings e tiramos 17 mil fotografias! O caminho até Taupo faz-se à volta destas 3 grandes montanhas que são na realidade vulcões e um deles está activo! Uma vegetação seca e acastanhada cobre o terreno todo até à base das montanhas e, pelo que aprendemos no museu Te Papa, isto faz sentido porque as cinzas de erupções não muitos distantes tornam o solo muito infértil. Claro que na nossa cabeça a única coisa que realmente interessa são os Orcs que estão ali... algures...
Contornamos os vulcões e começamos a ver o lago Taupo. A coisa engraçada e ligeiramente avassaladora ao olhar para este lago de dimensões gigantes é que na realidade ele é uma cratera de um massivo vulcão que teve uma abismal erupção há cerca de 25 mil anos ("Uau mas como é que eles sabem isto tudo?" Perguntam vocês. É porque estamos muito atentos nos museus que visitamos noutros países :P). A consequência deste facto é que agora estamos sempre em zona vulcânica, na verdade os outros vulcões estão ligeiramente em cima deste (medinho, muito medinho). Ouvimos uns pequenos barulhos e rugidos que parecem vir de dentro da terra enquanto olhamos para a paisagem num miradouro... É hora de almoço e o estômago faz-se ouvir!
Seguimos para a cidade de Taupo sempre junto á margem do lago, o cenário é lindo e está claramente ao nível das paisagens que já tínhamos visto na ilha Sul, com verdes vivos e uma água azul que só não espelha o céu porque está um bocado de vento. Ao fundo avistamos as montanhas vulcânicas que enfeitam a linha do horizonte dando a esta cidade um carisma digno de postal. Quem passa férias em Taupo devem ser os mais abastados da Nova Zelândia. As casas são casarões à beira do lago e nas ruas circulam grandes carros. Resorts, spas, campos de golf, lojas de produtos para esquiar e restaurantes fancy fazem o turismo desta cidade. E nós como bons turistas que somos, sem saber ao que íamos, acabámos por ficar num parque de campismo todo luxuoso junto ao centro. Por luxuoso entenda-se um campismo com piscina aquecida, cabines com quartos com mais de 3 metros quadrados, campo de tennis, de volley e basket, sala de conferências, etc. Mas o que realmente interessa é apenas uma coisa: tem duches de água quente com paredes, banquinho, secador do cabelo e cabide? Sim! Então é de luxo! Depois de um almoço espetacular no Dixies Brown (a empregada de mesa que nos serviu que parecia russa está cá a trabalhar há 1 ano e pediu-nos conselhos da nossa viagem pela ilha sul, estamos uns verdadeiros locais!!!) fomos fazer o Rio Huka num jet boat de 600 cavalos, com dois motores v8 que precisa apenas de um palmo de água para chegar aos 80 km/hora.
O rio que começava numa cascata imensa e acabava num dick tinha a água completamente transparente. Entramos no barco e a primeira coisa que o Liam (o nosso rider) faz é um 360 que mete logo todos em sentido. Depois pára o barco, dá algumas explicações de segurança e arranca a fundo contra uma árvore que está caída na margem do rio e...... tranca o volante para a esquerda e depois para a direita lançando o rabo do barco num efeito de chicote para a esquerda, falhando a árvore por um cagagésimo de centímetro.... É em momentos como este que pensas que vais morrer e passa-te a vida em frente aos olhos: aquele casamento perfeito que tiveste, o quanto adoras a tua família, aquela despedida da vida de solteiro que foi para lá de épica, o quanto o teu cão significa para ti, tipo filme, sabem? Mas não acabou aqui, a coisa ficou muito pior! O percurso é feito sempre junto à margem rasando árvores, fazendo slalom entre barrotes de madeira propositadamente postos no meio do rio quase atropelando os patos e cisnes que nadavam tranquilamente e intercalando todos estes obstáculos com 360's cada vez mais violentos. Saímos de lá com o estômago na garganta mas com uma estranha alegria de viver. No retorno à cidade reparámos que existiam vários trilhos vulcânicos para explorar e decidimos embarcar num deles. Fomos parar ao Thermal Valley Walk que era basicamente o jardim de um senhor idoso muito simpático. O passeio demorava cerca de 30min e levou-nos por um valezinho onde tudo fumegava e o cheiro a enxofre era nauseabundo (já descobrimos de onde vem a cara que a Ana faz às vezes). Por entre pontes e riachos o cenário que estávamos a assistir tinha algo de místico, com buracos no chão que cuspiam um ar quente e uma vegetação meio seca meio verde derivado do ambiente em que está. Muito giro caminhar em chão vulcânico activo.
À saída do passeio fomos recebidos por vários membros da nossa família animal: uns pavões, uns patinhos, umas galinhas e uns pintainhos. Todos eles foram a correr ter com a Ana quando ela se ia por em posição para fotografar um dos pavões macho que estava de penas eriçadas. O espírito Piriquito é forte nela!
Sentados na proa do barco, já um bocado verdes de tanta onda a bater, começamos a avistar Wellington. A cidade desenrola-se toda à beira mar, numa baia feita de luzes, cores e edifícios imponentes. É um ponto de viragem na nossa viagem!
Entramos na cidade e damos de caras com um trânsito imenso, 4 faixas de rodagem e sinais vermelhos. As 7mil ovelhas a pastar são agora pessoas atarefadas de várias culturas, a ir e a vir como autênticas formiguinhas. A cidade em si não tem nenhuma beleza especial, mas como à meia noite comemoramos um dia especial (4 anos de Piriquitos) começamos a nossa estadia :) Decidimos ficar esta noite num hotel para ficarmos mais perto do centro da cidade porque queríamos jantar num sítio giro e no dia a seguir dar umas voltinhas citadinas. O hotel mais em conta que conseguimos tinha tanto de central como de peculiar. O quarto tinha mobília de madeira preta e era forrado com uma alcatifa vermelha escura com uns apontamentos dourados. Os interruptores das luzes pareciam os sinos da recepção de um hotel antigo e as tomadas eram no rodapé de tal maneira junto ao chão, que nos impedia de colocar as nossas fichas para carregar os vários devices electrónicos que temos. Piroseiras à parte, foi um momento único tomar duche sem chinelos e sem ter que fazer posições artísticas para secar e vestir. Pusemos o nosso melhor kit, jeans e t-shirt, e fomos jantar ao Beach Babylon, um restaurante com vista sobre a baía. Mais uma vez, os donos do restaurante eram muito porreiros e deram-nos umas dicas de como devíamos seguir viagem na Ilha Norte. Depois da garrafa de vinho Sauvignon Blanc estar vazia seguimos rumo aos bares em Courtnay Place.
Ancorámos num bar decorado com vinis por todo o lado e com um DJ orientado aos 70's e 80's. Duas tequilas depois o cansaço começou a bater e fomos dormir, não sem antes parar no Burguer King mesmo à gordosssss!
Acordámos cedo e saímos do hotel em busca de uma torrada, uma tosta de queijo, um croissant misto, qualquer coisa que fosse semelhante a um pequeno almoço. Não foi fácil, mas depois de uma ou outra nega eventualmente acabámos por encontrar um sítio que nos conquistou. A cidade é meia escura e apesar de não ser suja, tem um aspecto velho e pouco cuidado. Umas casas são feitas de madeira e parecem autênticas casas de bonecas em tons de cinzento e azul, outras parecem contentores de carga completamente rectangulares sem nenhum estilo em concreto. Depois mais junto ao mar está a zona de negócios que é feita de prédios altos, escuros e sérios e outros até bastante artísticos.
Sabíamos que um must see da cidade era o museu Te Papa que tem 6 andares com a história do país, do lado Maori e do lado Europeu. Ficámos surpreendidos ao perceber que o museu era todo free e, inclusive, tinha free Wi-Fi em todos os andares. Este povo é mesmo único! Passámos uma hora e meia no andar 2 e outra hora e meia no andar 4. O andar 2 tinha a história natural da Nova Zelândia, desde os vários animais que existem nas ilhas tanto terrestres como marinhos, até à história geológica do país. Já fizemos check em muitos dos animais que estavam no museu, o único que realmente tivemos pena de não ver foi a baleia. No tecto estava pendurado um esqueleto de baleia que tinha alguns 10 metros de comprimento e mais à frente na exposição vimos uma imitação de um coração de baleia onde cabia o nosso Smart tranquilamente...Impressionante! Ainda no mesmo andar, havia um espaço dinâmico dedicado exclusivamente à história geológica do país que contava ao pormenor a evolução da Ilha ao longo dos anos. Quando éramos todos um só continente, a Nova Zelândia era pegada ao sul da Austrália e devagarinho foi sendo afastada para o lado Este, ao longo da fenda que separa a placa Australiana da placa do Pacífico. Essa fenda passa no meio do país atravessando as duas ilhas (norte e sul) verticalmente. É realmente espantoso aprender como se formaram estas ilhas e as razões pelas quais são tão montanhosas e vulcânicas. Por causa desta grande fenda o país está em constante mutação sofrendo periodicamente terramotos grandes e diariamente terramotos ligeiros. Para dar uma noção da intensidade dos terramotos aos visitantes, existe um pequena casa interativa que é um simulador de um tremor de terra. Tem tanto de fascinante como de assustador! É de tal maneira real que Ana saiu a meio porque não se estava a sentir confortável... Depois de termos aprendido as noções básicas dos vulcões e o impacto que tiveram, e continuam a ter, na paisagem e consequentemente na vida dos neozelandeses, seguimos para o 4o andar. Começámos pela exposição da história dos Maori que em 1800 tinham várias tribos em constante guerra. À volta de 1820 há uma tribo que na sua migração da ilha norte para a ilha sul começa a tomar conta de vários territórios de outras tribos. Algures durante este processo, um dos chefes dessa tribo foi perseguido por uma tribo inimiga e escondeu-se no acampamento de uma terceira tribo. É quando está escondido à espera que os inimigos vasculhem a terceira tribo e sigam caminho sem o encontrar, que começa a entoar o Haka Mate, o hino que foi tornado mundialmente famoso pela equipa de rugby neozelandesa.
Em 1840 foi assinado o Tratado de Waitangi, entre as tribos Maori e a coroa inglesa, que dizia que todas as terras da nova Zelândia seriam governadas pelos ingleses mas ficaria propriedade das tribos tudo aquilo que tinha adquirido e que era seu por direito. À medida que mais imigrantes iam chegando à Nova Zelândia era necessário mais espaço e consequentemente o tratado foi sendo quebrado. Até que em 1842 o povo Maori começa a revoltar-se e os ingleses prendem o chefão das tribos, obrigando as tribos a cederem todas as suas terras em troca da libertação do chefão. Desde aí que existe uma grande batalha legal entre os Maori e o governo neozelandês porque efectivamente o tratado foi quebrado e o povo tenta restituir aquilo que foi acordado. No fim da exposição têm referências a famílias europeias que ainda hoje persistem por cá.
Antes de irmos subimos ao último andar para ver a baía de um ponto mais alto.
A seguir ao almoço passámos na lavandaria e, de volta à nossa caravana, seguimos viagem para norte em direção ao centro da ilha. A viagem deve ser longa, para aí umas 5 ou 6 horas. No início o cenário é de costa e praia com água azul. Agora o trânsito é uma constante o que marca a diferença para a outra ilha - olha, olha, cuidado! *PUM* pronto, um pássaro gigante bateu-nos no vidro :/ . Depois começa uma paisagem interminável de pastos verdes em planícies e ligeiros montes, recheados com as nossas queridas companheiras de viagem, as ovelhas. Ao fim de algumas horas saímos da estrada principal para esticarmos as pernas. Nisto damos de caras com um rio completamente isolado onde alguém teve a brilhante ideia de fazer um campervan Park na margem onde o rio curva, mesmo giro!
King and Queen of the bush
Escurecia devagar e logo vimos que ia acontecer o que ainda não tinha acontecido até agora, íamos guiar durante a noite. Quando a noite cerrou começou um espectáculo no céu de fazer inveja a muitas das paisagens que tínhamos visto. As estrelas eram tantas, mas tantas que até fazia confusão aos olhos. Parámos para ver com atenção e parecia que estávamos no planetário mas com o som de um riacho de fundo e rodeados de árvores! Um momento muito único! Debaixo da escuridão da estrada sem luzes mas com vários camiões do tipo dos Transformers com várias formas, feitios e cores luminosas continuámos até Ohakune onde íamos passar a noite.
Hoje foi o primeiro dia que acordámos com o céu completamente cinzento uma chuva torrencial. Fizemos a nossa rotina do costume: umas grandas torradas na caravana, um hot shower nos duches do campismo, e siga viagem para mais um sítio mágico. Agora a Route 6 tem um cenário um bocado diferente, do lado direito montanhas abismais com uma vegetação super densa e à esquerda a costa oeste com uma linha de praia de km e km. A paisagem é linda até 1 km de distância, não para ver mais que isso devido ao nevoeiro. (Pedimos desculpa pelos vídeos verticais, íamos tirar uma fotografia e acabámos por filmar :P)
São uns valentes km até à primeira paragem, Hokitika, que com a chuva intensa e o nevoeiro cerrado levantam duas questões pertinentes: será que vai acabar o mundo com uma inundação? Ou será que o D. Sebastião vai aparecer no meio da estrada e sem querer vamos atropelá-lo? Hokitika é uma mini cidade junto ao mar onde o seu grande monumento é uma torre do relógio numa rotunda. Paramos a nossa casa e vamos a pé até à praia tirar umas chapas, debaixo de uma tempestade agressiva. Descobrimos outro monumento, o nome da cidade escrita em troncos junto ao mar.
Entramos no Stella Cafe para comer qualquer coisinha. No menu estava "Cheese Waffles with Bacon" que decidimos pedir como entrada. Em cima disso, o Diogo pediu um Lamb Beef Burguer e a Ana, com saudades dos ovos com bacon do Hotel Millbrook, pediu um All Day Breakfast. Tínhamos ali, em cima da mesa, umas ligeiras 37mil calorias. Ah, e como não estávamos satisfeitos, ainda pedimos um batido de banana que parecia que estávamos beber leite condensado por uma palhinha.
Barriguinha cheia, siga a marinha! O próximo ponto de paragem é em Punakaiki que nos foi sugerido para vermos o Pancake Rocks e os Blow Holes. Demorámos mais 3 a 4 horas a chegar, que acumuladas ao ao longo do dia ainda são umas quantas horas dentro do carro, o que tem as suas consequências.
Finalmente chegámos às famosas Pancake Rocks que são rochas formadas por várias layers de sedimentos que parecem montanhas de panquecas, umas em cima das outras. Para vermos este mistério da natureza fizemos um passeio junto ao mar num sítio tipo boca do inferno, mas com muito mais vegetação.
De seguida, fomos parar a nossa van no Beach Camp, um parque de campismo no meio da floresta mesmo junto à praia. Saímos logo a seguir para um trekking de cerca de 1 hora no Paparoa Park. O trilho era estreito por entre as mil e uma árvores, sempre junto ao rio. A vegetação era tão densa que embora saibas que estás a 5 passos do rio por vezes não o consegues ver. Parecia que estávamos a ser perseguidos por um T-Rex que nunca aparecia, mas estava ali escondido no meio do mato de narizinho apontado para nós à espera do primeiro deslize para atacar. Em falar em deslizes, enquanto tirávamos umas selfies em time lapse, a Ana pisou em falso e ia caindo para o rio, como se vê nas fotografias :P
No retorno do passeio, vimos dois animais os Wickers (será assim que se escreve?) que pensávamos serem Kiwis. Ficámos uns minutos a filmá-los super entusiasmados que estávamos perante o bicho mais famoso da Nova Zelândia. Not!!! Viemos a descobrir que eram simples pássaros, uns primos afastados das galinhas.
Eram 7 da tarde quando chegámos à caravana e as 37mil calorias que ingerimos ao almoço relevaram não ter sido uma grande ideia. Estávamos de tal maneira mal dispostos que nem conseguimos jantar. Fomos dormir pelas 20h com a chuva a bater forte na caravana proporcionando um adormecer muito cozy! :)
Para começar bem o dia limpa-se esgotos e muda-se as águas da caravana. Coisas agradáveis de fazer logo pela manhã!
Depois desta tarefa espetacular seguimos viagem rumo a Franz Joseph para uma excursão num dos 3mil glaciares que existem neste país. Mais uma vez, os cerca de 150km de viagem mudam a cada curva. Primeiro a paisagem começa por ser feita de planícies verdes, tão verdes que parecem tapetes sintéticos. Depois, a estrada (Route 6) começa a aproximar-se da costa e a paisagem muda completamente. O que antes eram prados a perder de vista agora são enseadas rochosas onde nasce o Tasman Sea. Estão a ver a Estrada do Guincho? Não tem nada a ver! Entre as tais enseadas saltam praias de gravilha com muitos troncos secos.. é estranho, mas bonito!
Uma pequena nota: como Portugal é o país das rotundas, a nova Zelândia é o país das pontes. Não fazes 5 metros sem tropeçares numa riachito com uma ponte de uma só faixa. Ou passa um carro para lá, ou passa um carro para cá. Riachito em riachito lá chegámos a Franz Joseph pelas 11.30h. Temos 30 minutos para almoçar, ir ao supermercado, preparar um lanche para meio da tarde, registar-nos na excursão, vestir aquelas roupas de neve e apanhar o helicóptero para os glaciares. And we did it!
O caminho até ao heliporto faz-se pelo meio do mato parece que estamos na tropa e temos uma missão de salvamento. Tal como nos alertou a senhora Fátima Moura na cerimónia, a Ana ficou magicamente com vontade de fazer xixi a meio do caminho para o helicóptero, acabados de sair do edifício onde havia casas de banho.... Previsível! O que valeu foi a casa de banho de festival que havia no heliporto para os senhores que lá trabalhavam! Depois de levarmos uma lição de segurança do Bro, um neozelandês claramente de descendência Maori, seguimos para dentro do helicóptero com mais dois casais (um casal Britânico e outro Malaio). O piloto levanta vôo, dá meia volta e vai em direcção às montanhas dos glaciares. Aterramos em pleno glaciar, no meio do gelo, rodeados de branco e pedra.
O nosso guia Josh dá-nos as indicações de segurança para colocar os crampons, os pitons para o gelo que se metem nas botas, e lá vamos nós em mais uma aventura subir os glaciares com um grupo de 6 malaios e o tal casal de britânicos. O gelo dos glaciares parece vidro e à medida que subimos mais branco e puro está. O passeio é feito entre rachas gigantes no gelo e o Josh vai usando a sua picareta para fazer degraus nas paredes de gelo para irmos subindo. Ele explica-nos que os glaciares movem-se 3 a 4 metros por dia! Como tal, nenhuma excursão é igual. O staff todos os dias trabalha o gelo de forma a abrir caminhos para que seja possível fazer as visitas que são verdadeiras gincanas. Passámos por dentro de túneis de gelo que não são maiores que a nossa largura de ombros.. um tanto claustrofobico, mas brutaaaaal!
Já estávamos a chegar ao topo do glaciar quando as nuvens começam a aparecer e o nevoeiro ameaça a continuação da aventura. O Josh demonstra muita tranquilidade, mas percebemos pelas conversas no walkie-talkie que a indicação é começarmos a descer. Paramos uns minutos para comer o nosso lanche, tirar umas pictures e estava na hora de voltar. As condições não estão nada favoráveis e é melhor jogar pelo seguro. É neste momento que ouvimos um mega estrondo vindo lá de cima! Olhámos todos com o coração na garganta... Uma derrocada ao vivo! Um conjunto de calhaus de gelo que deslizava montanha abaixo acompanhado de um som forte tão natural como assustador! O Josh, mais uma vez, demonstra uma tranquilidade exímia que nos deixa um bocado mais relaxados! Seguimos viagem, sempre a descer! O helicóptero foi buscar-nos e fizemos a viagem até terras seguras com uns ligeiros abanões. Tivemos muita sorte porque pelo que se percebeu depois de nós só subiu mais uma excursão por causa do tempo... Vem aí chuva durante 2 dias e com chuva não há passeios! Depois da excursão estava na hora de descobrir um campervan Park e acertámos na muche com o Rainforest Retreat. Cada lugar de caravana era "esculpido" no mato e toda a zona era em plena floresta. Lindo e relaxante!
À noite fomos beber uma cervejinha ao bar do parque de caravanas e depois de uma caneca, mesmo à montanhistas, aparece a senhora do bar com champanhe a perguntar se estávamos em lua de mel (??? Mas como é que ela sabe?!). Então foi o casal de britânicos que veio connosco em excursão, o Euan e a Bethany que estavam sentados do outro lado do bar, que nos ofereceram este presente (nós dissemos que estávamos em lua de mel durante a excursão)! Muito porreiros. Fomos ter à mesa deles e là ficamos 4 horas na conversa, a beber uns copos e a trocar impressões de viagem! Muito muito castiço!!
Acordámos com muito menos frio, as almofadas a isolar as paredes da caravana onde nós dormimos deram resultado!
Hoje a viagem é longa porque vamos de Manapouri até Haast! Arrumámos a caravana, despedimo-nos do Possum Lodge e do lago Manapouri que nos acena de volta com uma paisagem linda debaixo de um dia de sol espectacular. Até Queenstown são cerca de duas horas de caminho e, como já foi dito num post anterior, este caminho é metade em planícies e planaltos com ovelhas e a outra metade a contornar o lago Wakatipu entre curvas e contra curvas que descortinam autênticos quadros paisagísticos que o avô Diogo iria adorar desenhar a aguarelas. Como não podia deixar de ser esquecemo-nos do stick da GoPro do senhor comandante no nosso quarto em Millbrook. Então decidimos passar por lá para ir buscar e acabou por ser uma sorte.
Um dos senhores da recepção, o Mathias, deu-nos imensas dicas e aconselhou-nos a ir visitar Arrowtown para almoçar. Esta cidadezinha nasceu no gold rush desta zona e a arquitectura manteve-se, por isso parece que estamos a passear por um filme Western, mas muito fashion. Almoçámos no Chop Shop (como sugeriu o Mathias) que era muito bom, mas meio carote.
Montámo-nos na nossa big caravan e seguimos viagem passando por Cromwell e Wanaka. A paisagem muda a cada hora, de riachos entre montanhas para quintas com vinhas e pomares intercaladas com quintas com vacas e ovelhas em planícies verde vivo ou castanho terra. Andar de carro horas a fio não custa nada quando uma pessoa não tem bem a certeza o que vai ver depois da próxima curva.
Ao passar Wanaka (avistámos uns malucos a fazer skydiving.. A Ana está cheia de vontades!!) chegámos ao lago Hawea e seguimos pelo lago Wanaka, tudo sítios brutais para grandes fotos e filmes com o recentemente recuperado stick da GoPro :P
De repente, o Diogo olha para o monitor de bordo e pimbas, luzinha do motor acesa. A Ana pensa "pronto! é o fim das nossas férias, vem um tsunami e o mundo vai acabar!" (sempre com o seu positivismo característico)! O manual da VW diz para andarmos devagar e pararmos na oficina mais próxima... Mas nós estávamos literalmente no meio do nada, não há viva alma a não ser pássaros, não há bombas, não há rede de telemóvel.. A única coisa que há são 100 e tal km de curvas e contra curvas numa paisagem que reduz as nossas conversas a "Uau!", "Uau", "Uau". Não havia nada a fazer a não ser esperar chegarmos a Haast e tentar falar no telefone do parque de campismo para o número SOS das caravanas! No meio do caminho encontrámos uma placa que apontava para o meio do bosque e dizia "Blue Pools". Parámos a nossa casa ambulante, e agora doente, num reentrância da estrada e lá fomos nós à descoberta, a pé 30 minutos pelo meio das árvores que de tão densas tapavam o céu. Foi uma boa paragem! As Blue Pools são pequenos rios formados com a água que vem em cascata diretamente do cume da montanha. Por o solo ser gravilha muito branca, a água que é pura fica azul turquesa, parece as Caraíbas mas em versão Rio! O caminho até às piscinas não foi fácil, era por uma apertada ponte que balouçava de uma forma tão intensa que parecia que ia virar! O Diogo tem vertigens então acabou por ser um episódio engraçado saltar em cima da ponte e fazer-lhe tanto medo ao ponto de ficar branco, tipo da cor da gravilha! Ahahahah!
Continuámos caminho por mais cerca de 2 horas. Estávamos a andar na base de uma cordilheira de montanhas, chamada Mount Aspiring. Íamos quase que paralelos ao rio que corre no meio da cordilheira e, tanto do lado direito como do lado esquerdo, erguiam-se abismais paredes de pedra e vegetação, que por vezes nos presenteavam com cataratas com uma força tal que pareciam uma torneira ligada no meio das montanhas.
Chegando ao fim da cordilheira, o céu abre-se como que anunciando um fim de mais um momento mágico. Parámos a nossa caravan no Parque de Campismo que não tinha nada a ver com o primeiro. Este era muito mais comercial e grande. O Possum Lodge deixou mesmo saudades! Ligámos para o SOS Maui (da assistência das caravanas) e uma voz, possivelmente Noca, do outro lado a falar um inglês manhoso garantiu-nos que dentro de uma hora ia chegar alguém da assistência para ver a nossa caravana. Como já é normal, o senhor da assistência transbordava felicidade e simpatia. Lá fez o que tinha a fazer e, em princípio, ficou tudo resolvido.
Esta noite pela primeira vez cozinhámos dentro da caravana e, mais uma vez, fomos dormir cedo.